Jorge Wamburg - Agência Brasil
Brasília – Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea) sobre racismo no Brasil, divulgado hoje (17), revela que a
possibilidade de um adolescente negro ser vítima de homicídio é 3,7
vezes maior do que a de um branco. Segundo o estudo, existe racismo
institucional no país, expresso principalmente nas ações da polícia, mas
que reflete “o desvio comportamental presente em diversos outros
grupos, inclusive aqueles de origem dos seus membros”.
Intitulado Segurança Pública e Racismo Institucional, o estudo faz parte do Boletim de Análise Político-Institucional
do Ipea e foi elaborado por pesquisadores da Diretoria de Estudos e
Políticas do Estado das Instituições e da Democracia (Diest). “Ser negro
corresponde a [fazer parte de] uma população de risco: a cada três
assassinatos, dois são de negros”, afirmam os pesquisadores Almir
Oliveira Júnior e Verônica Couto de Araújo Lima, autores do estudo.
Na apresentação do trabalho, em entrevista coletiva na sede do Ipea
em Brasília, o diretor da Diest, Daniel Cerqueira, que, do Rio,
participou do evento por meio de videoconferência, apresentou outros
dados que ratificam as conclusões da pesquisa sobre o racismo
institucional. Segundo ele, mais de 60 mil pessoas são assassinadas a
cada ano no Brasil, e “há um forte viés de cor/raça nessas mortes”, pois
“o negro é discriminado duas vezes: pela condição social e pela cor da
pele”. Por isso, questionou Cerqueira, “como falar em preservação dos
direitos fundamentais e democracia” diante desta situação?
Para comprovar as afirmações, Cerqueira apresentou estatística
demonstrando que as maiores vítimas de homicídios no Brasil são homens
jovens e negros, “numa proporção 135% maior do que os não negros:
enquanto a taxa de homicídios de negros é de 36,5 por 100 mil
habitantes. No caso de brancos, a relação é de 15,5 por 100 mil
habitantes”.
A cor negra ou parda faz aumentar em cerca de 8 pontos percentuais a
probabilidade de um indivíduo ser vítima de homicídio, indicam os dados
apresentados pelo diretor do Diest. Isso tem como consequência, segundo
Daniel Cerqueira, uma perda de expectativa de vida devido à violência
letal 114% maior para negros, em relação aos homicídios: “Enquanto o
homem negro perde 1,73 ano de expectativa de vida (20 meses e meio) ao
nascer, a perda do branco é de 0,71 ano, o que equivale a oito meses e
meio.”
Para o pesquisador Almir de Oliveira Júnior, como dever
constitucional, o Estado deveria fornecer aos cidadãos,
independentemente de sexo, idade, classe social ou raça, uma ampla
estrutura de proteção contra a possibilidade de virem a se tornar
vítimas de violência. “Contudo, a segurança pública é uma das esferas da
ação estatal em que a seletividade racial se torna mais patente”, disse
Oliveira Júnior.
De acordo com as estatísticas sobre a violência em que o estudo se
baseou, esse é um dos fatores que explicam por que, a cada ano, “uma
maior proporção de jovens negros, cada vez mais jovens, é assassinada”,
acrescentou o pesquisador. Segundo ele, enquanto nos anos 80 do século
passado, a média de idade das vítimas era 26 anos, hoje não passa de 20.
Edição: Nádia Franco
Foto publicada no portal Diário do Centro do Mundo
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