Por Antonio Lassance, no Portal Carta Maior
Brasília -De sustentabilidade em sustentabilidade, Marina Silva
se filia a seu terceiro partido. Após as eleições de 2014, ela fará nova
troca, ingressando em sua Rede. Será uma média de quase um novo partido
a cada um ano e meio. A dobradinha com Eduardo Campos, que em
ataque de sinceridade, Marina chamou de "coligação pragmática",
surpreendeu apoiadores do PSB e, mais ainda, da Rede. Muitos consideram o
PSB um "mal necessário". Outros acham que Marina cometeu um erro
estratégico, que vai chamuscar sua imagem pública, torná-la refém de
Eduardo Campos, ligá-la a aliados indigestos do PSB, como os Bornhausen,
em Santa Catarina, e, assim, afastar marineiros cujo estômago não está
preparado para engolir tantos sapos. A Rede que queria Marina como
candidata a presidente a aceita menos como vice de Campos, tido como um
político menor, perto de sua líder.
O acordo com o PSB coloca a
ex-senadora no jogo de 2014, mas na posição de coadjuvante. Quem mais
ganha com a aliança é Eduardo Campos, que fez um lance de mestre. Acaba
de ganhar uma garota propaganda de peso. Marina, com seus 16% de
intenções de voto, com viés de baixa, deve catapultar os 4% de Eduardo
Campos. Porém, na matemática eleitoral, 16 mais 4 não é igual a 20, pois
a operação tem perdas de lado a lado. Tem gente do PSB ligada a
ruralistas, que não gostam de Marina; tem gente da Rede que não quer
saber de Eduardo Campos.
A dupla pisa sobre a cabeça de Aécio
Neves e o empurra para baixo. Muito em breve, o mineiro poder amargar,
pior do que o terceiro lugar atual, um patamar inferior a 10%, algo
inédito para o PSDB.
José Serra está saboreando sua vingança em
um prato ainda quente. Há apenas uma única coisa que Serra queira mais
em 2014 do que derrotar o PT: é diminuir Aécio. Quando chegou à
conclusão de que eram mínimas as chances de Marina ter seu partido
registrado a tempo para concorrer no ano que vem, Serra considerou que o
cenário mais provável era o de vitória de Dilma em primeiro turno. Um
resultado péssimo para o PSDB e uma mancha definitiva para a carreira de
Aécio. Com a chapa Campos/Marina, a candidatura Aécio Neves sofre grave
risco de esvaziamento.
Mais do que Dilma, é a chapa do PSB que
passa a ser, momentaneamente, a principal adversária do candidato do
PSDB. Diante do risco de ficar para trás na corrida presidencial,
comendo poeira, há quem defenda reavaliar a situação ao longo de 2014.
Se Aécio não se mostrar viável, o PSDB tentará uma saída que evite um
resultado vergonhoso.
Para a candidatura Dilma, as chances de
vitória no primeiro turno continuam fortes. Já era assim, conforme
pesquisas mais recentes, quando Marina ainda aparecia como possível
candidata. Como vice de Eduardo Campos, é difícil que a decisão da Rede
provoque algum estrago extra na candidatura petista.
O que pode
causar problemas para o PT, de agora em diante, são seus eventuais erros
e a péssima atuação congressual de seu grande aliado, o PMDB. A
vantagem de Dilma é que sua dobradinha principal é com Lula. Mais do que
Eduardo Campos e do que Marina Silva, Lula sabe bem como é que se muda
um país. A atuação de Dilma na presidência e a de Lula no debate
político são armas poderosas. O que ainda falta e será decisivo em 2014 é
um programa ousado, que enfatize mais a mudança que a continuidade,
diferentemente da estratégia de 2010. Do contrário, a pecha de República
Velha, não a de 1891, mas a fundada pelo PMDB em 1985, pode virar
carimbo.
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