quinta-feira, 17 de julho de 2014

Pelo fim da impunidade de Israel

A diáspora do povo palestino imposta pela criação do Estado de Israel, em 1948, não foi capaz de comover a chamada comunidade internacional. Isso deve ter fortalecido o impulso imperialista dos governos sionistas de Israel. Tanto que na "Guerra dos Seis Dias", em 1967, Israel anexou territórios de países árabes. De lá para cá tem ignorado todas as resoluções da ONU determinando a devolução das Colinas de Golã à Síria, da Península do Sinai ao Egito e de Jerusalém Oriental à Jordânia. O apoio político e militar incondicional dos EUA, na certa, encorajou Israel a  viver à margem das decisões de organismos internacionais e de costas para os preceitos mais comezinhos dos direitos humanos. Diante de mais um massacre praticado por Israel em Gaza, permanece sem resposta uma pergunta indignada de todos os que preservam algum senso de justiça e amor à vida : até quando Israel disporá de uma espécie de salvo-conduto para atacar civis e assassinar crianças e idosos ?

Não é possível mais aceitar que as reações da diplomacia internacional oscilem entre condenações marcadas pela timidez (absolutamente insuficientes diante da gravidade da situação)  e o silêncio cúmplice, passando até por um apoio envergonhado, com base no argumento infame de que "Israel tem o direito de se defender." Se defender de quem, cara pálida ? Das pedras atiradas pela resistência palestina contra as bombas de Israel, como nas intifadas de 1987 e 2000 ? Ah, não é o caso?

Então, se o pretexto são os mísseis lançados por grupos como a Jihad Islâmica e o Hamas em território israelense, vamos confrontar os números : 1) Mísseis lançados sobre Israel = nenhum israelense ferido ou morto e poucos prejuízos materiais; 2) Ação militar de Israel contra Gaza = quase 600 palestinos presos, entre eles o presidente do Parlamento, além de nove deputados; duas mil casas destruídas; 1.056 feridos e 156 mortos, vítimas dos incessantes bombardeios de Israel, a maioria em áreas civis e residenciais.

Uma análise minimamente cuidadosa sobre as razões alegadas por Israel para desencadear a agressão mostra como o governo de Benjamin Netanyahu manipula de forma grosseira os fatos para tentar atingir seus objetivos políticos. Conforme excelente matéria de CartaCapítal desta semana sobre o assunto, assinada por Antonio Luiz M.C. Costa, Israel fez do sequestro e assassinato de três jovens colonos judeus da Cisjordânia um pretexto para torpedear uma aliança política que jamais engoliu : o governo de unidade palestino Fatah-Hamas. Cabia ao primeiro-ministro tratar a elucidação do crime e a punição rigorosa dos culpados como prioridade. Mas dentro dos limites da lei do seu país.

Entretanto, lembra o jornalista de CartaCapital, Netanyahu não foi capaz de apresentar nenhuma prova do envolvimento do Hamas com o crime. Ao contrário, existem fortes indícios de que o responsável pelo sequestro é o clã Qawasmeh, um grupo autônomo e semimafioso que controla o contrabando na região de Hebron. Mas ao acusar o Hamas e partir para o ataque, o governo de Israel mira dois objetivos : jogar no colo do Fatah-Hamas o ônus pelo fracasso das negociações de paz e, no limite, criar as condições para a anexação definitiva do território palestino (Cisjordânia e Gaza) ou de parte dele.

Por outro lado, os seguidos crimes de guerra cometidos por Israel atingem em cheio o estado de espírito e a esperança dos palestinos quanto às negociações de paz interrompidas por Israel desde que as duas principais organizações palestinas chegaram a um entendimento. Pesquisas recentes mostram que 60% da população palestina rejeita a paz e a coexistência dos dois Estados, que tem sido a base das últimas e fracassadas rodadas de negociação.

O desfecho da crise atual vai depender muito da opinião pública internacional. Cabe aos movimentos, organizações e cidadãos de boa fé cobrarem da ONU e dos governos de todos os países uma condenação enérgica de Israel,  para além da mera condenação retórica feita até agora pelo secretário-geral Ban Ki-moon, que se limita a criticar o uso desproporcional da força por parte de Israel. São positivas as iniciativas de movimentos que ao redor do mundo pregam o boicote a Israel, bem como o aconselhamento da União Europeia para que empresas do bloco cancelem novos empreendimentos e parcerias com Tel Aviv.

O que acontece na Faixa de Gaza, a exemplo de dezembro de 2008 e janeiro de 2009, é muito mais grave. do que uma reação desproporcional. Israel pratica a céu aberto, com seus bombardeios indiscriminados, crimes de guerra e contra a humanidade, violando todas as convenções e tratados sobre o tema. Seria muito bem-vinda uma campanha para que Israel sente no banco dos réus do Tribunal de Haia por esses crimes.

Mas é preciso pressa, uma vez que a situação ainda tende a se agravar. O ultimato do exército israelense para que os palestinos residentes na fronteira com Israel abandonem suas casas é um claro sinal de que uma invasão por terra está a caminho.






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