A direita brasileira, expressão dos interesses dos ricaços, mostrou a
sua força nas manifestações deste domingo (15). Os sites dos jornalões e
as emissoras de rádio e tevê difundem que mais de um milhão de pessoas
participaram dos atos realizados em várias capitais e centros urbanos.
Nas fotos e vídeos, imagens assustadoras de suásticas nazistas e pedidos
da volta dos militares ao poder e do 'Fora Dilma' - reeleita há menos
de cinco meses num pleito democrático. Com as suas diferenças
históricas, elas lembraram as fatídicas 'Marchas com Deus pela Família'
que prepararam o clima para o golpe militar de 1964. Diante deste
cenário, o que fazer? Como dar resposta a essa barulhenta ofensiva da
direita?
A tendência natural neste momento é discutir os motivos do afluxo de pessoas neste domingo. Muitos tentam relativizar a força do protesto afirmando que os manifestantes pertencem às classes abastadas - à chamada elite branca - e às egoístas camadas médias da sociedade. Mesmo que fosse verdade, isto não reduz o impacto das marchas. Há também quem acrescente que as manifestações foram induzidas pela mídia hegemônica, que inclusive usou a manhã do domingo para "esquentar" as baterias para os protestos no período da tarde. Isto também não alivia em nada a análise sobre o quadro atual.
Afinal, os barões da mídia há muito apostam na desestabilização dos
governos Lula/Dilma. Foi assim no midiático julgamento do "mensalão
petista"; na tentativa de pegar carona nas jornadas de junho de 2013; e
na Copa do Mundo, quando até a paixão pelo futebol sofreu abalos. É
assim, diariamente, nas colunas dos "urubólogos", que espalham o
pessimismo sobre a economia. Na campanha presidencial de outubro
passado, o partidarismo da mídia ficou ainda mais patente - a capa
criminosa da 'Veja' foi a expressão caricata desta agressividade. Mas
não adianta reclamar do posicionamento dos barões da mídia. Eles nunca
esconderam seus intentos golpistas. Pena que o governo dormiu com o
inimigo - e inclusive ajudou a financiá-lo, alimentando cobras!
Ainda na análise das causas dos protestos deste domingo muitos
concentram suas críticas na própria presidenta Dilma. Afinal, ela
iniciou seu segundo mandato tentando acalmar o "deus-mercado", com a
indicação de ministros ligados ao capital financeiro e a edição de
medidas de ajuste fiscal contrárias aos trabalhadores. Com isto, ela
afastou os setores que garantiram a sua reeleição - e, de quebra, não
acalmou o insaciável "deus-mercado". A presidenta também é criticada por
ter abandonado a batalha da comunicação, ausentando-se num período de
intensa conspiração golpistas. Estas e outras críticas têm certa
procedência, mas também não servem para decifrar o atual contexto
político.
Três personagens políticos decisivos
Mais do que realizar análises e balanços, que exigem maior
distanciamento histórico e detalhes sobre os bastidores (internos e
externos) da conspiração golpista, o momento exige traçar uma
estratégica para enfrentar a ofensiva da direita nativa - antes que seja
tarde. Esta é a tarefa mais urgente e requer analisar os personagens em
cena. Diante deste cenário, três atores surgem como decisivos para
barrar o retrocesso: a esquerda política e social; o ex-presidente Lula;
e, principalmente, o governo de Dilma. O futuro da democracia no Brasil
está nas mãos destes personagens!
No caso das esquerdas políticas-sociais, compostas por partidos e
movimentos populares, a confusão ainda é grande. Numa plenária nacional
realizada no sábado passado (7), isto ficou evidente. Ela foi
representativa, mas muito polarizada. Alguns setores fazem uma defesa
cega, acrítica, do governo e pregam cerrar fileiras em sua defesa -
inclusive de suas medidas impopulares. Outros subestimam a força da
direita e insistem no discurso - muitas vezes partidista - da oposição
frontal ao governo. Os dois extremos estão errados. Talvez o impacto das
manifestações deste domingo ajudem a calibrar melhor suas opções. O
mais urgente agora é defender a democracia, contra os intentos golpistas
da direita, e exigir que o governo Dilma assuma suas bandeiras
mudancistas da campanha presidencial.
Já no caso do ex-presidente Lula, ele segue como a maior liderança
popular do país - conforme atesta recente pesquisa Datafolha. A direita
teme que ele assuma a reação ao golpismo. Não é para menos que ele virou
o alvo das mentiras e intrigas dos fascistóides de plantão. Num evento
organizado pela CTB da Bahia nesta sexta-feira (13), uma proposta ousada
ganhou simpatias. Da mesma forma como Lula liderou a 'Caravana da
Cidadania', percorrendo estados e mobilizando milhares de pessoas, não
seria o caso de organizar agora uma 'Caravana pela Democracia',
alertando a sociedade para os riscos do retrocesso político no Brasil? A
partir do Nordeste, base principal de apoio às mudanças em curso nos
últimos 12 anos, ele poderia contagiar a militância progressista em todo
o país.
Por último, com relação ao governo Dilma, o papel da presidenta é
decisivo. Qualquer subestimação das forças golpistas ou visão
tecnocrática podem ser fatais para o seu futuro. O momento exige deixar a
"bolha" do Palácio do Planalto, percorrendo o país; maior disposição
para travar a "batalha da comunicação", enfrentando as polêmicas e
desmascarando os golpistas; e, principalmente, a urgente apresentação de
uma agenda positiva, que corresponda aos anseios de mudanças expressos
na disputa presidencial do ano passado. Num país de tradição
presidencialista, o papel de Dilma Rousseff é o mais decisivo de todos.
Não há tempo a perder. O momento exige pressa e ousadia!
*****
Nenhum comentário:
Postar um comentário