domingo, 19 de abril de 2015

Por que o PT acertou ao rejeitar contribuições de empresas

Antes de tudo, não é possível travar este debate fora do contexto do feroz cerco conservador enfrentado pelo PT. Nunca antes na história do partido sua imagem esteve tão abalada. É forçoso reconhecer que anos a fio de bombardeio midiático sem trégua e a adesão ao antipetismo mais visceral por parte de setores expressivos do Ministério Público, Polícia Federal e Judiciário fizeram um estrago considerável.

Antes limitada às classes média e alta, hoje a associação imediata entre e PT e corrupção contaminou também as camadas mais pobres da população. Adicione-se a tudo isso o fenômeno colateral da acomodação e da burocratização petista, que vem se acentuado desde que o partido chegou ao governo central da República em 2002, e chegaremos à situação de extrema gravidade atual.

Depois do mensalão, agora é a Operação Lava Jato que age meticulosamente para destruir o partido e o governo Dilma. Prende-se primeiro e investiga-se depois. Levados ao limite da pressão e da tortura psicológica, os executivos das empreiteiras sabem que só deixarão a prisão se aderirem à delação premiada. Mas não é qualquer delação. Só serve se incriminar o PT e o governo. Enquanto isso, a palavra de criminosos confessos, como Paulo Roberto Costa, Youssef e Barusco, têm fé pública e pautam a agenda política do país.

O estado de exceção dentro do estado de direito, como denuncia o documento da direção nacional do PT, proporciona espetáculos midiáticos em sequência, com presos sendo levados ilegalmente para o Paraná, mesmo sendo acusados de crimes cometidos em outros estados. Essas prisões, que jogam carne para uma mídia faminta, em geral atingem pessoas que nenhuma ameaça causam ao processo e que estão colaborando com os esclarecimentos necessários à Justiça. O tesoureiro do PT, por exemplo, só foi preso porque é o tesoureiro do PT. Se a madre Tereza de Calcutá fosse tesoureira do PT também seria presa.

É nesse quadro que o diretório nacional do PT decidiu determinar aos diretórios municipais e estaduais que não aceitem mais contribuições de empresas, ao mesmo tempo em que anuncia para breve uma campanha de captação de recursos voltada para seus filiados, simpatizantes, eleitores e amigos. Decisão correta filosoficamente e em absoluta sintonia com a atual conjuntura política.

Além dos recursos do fundo partidário, o PT tem plenas condições de se financiar apenas com contribuições de pessoas físicas. A "vaquinha" exitosa para pagar as multas absurdas impostas aos condenados do "mensalão" mostra a força da solidariedade de uma multidão anônima de petistas. Imagine o impacto de uma campanha bem feita destinada à sustentação do partido. Coisa do tipo : "Não recebemos mais dinheiro de empresas. Agora, a sobrevivência do partido depende de cada um de nós."

A decisão, ainda a ser referendada pelo 5º Congresso do partido, é também um fato político com peso suficiente para influir no debate sobre a reforma política no país. Concordo com o Paulo Henrique Amorim, para quem o PT deu um xeque-mate em Gilmar Mendes. Não é á toa que até a Folha de São Paulo, no dia seguinte à decisão petista, já defendeu em editorial a devolução do processo que Gilmar sentou em cima há mais de um ano. Como militante tucano e de direita que é, Gilmar agora vive uma dilema : se devolver, o Supremo conclui a votação proibindo a contribuição de empresas; se não devolver, dá relevo positivo à renúncia do PT ao financiamento empresarial.

Alguns críticos de boa-fé da decisão do PT dizem que ela foi pautada pela pressão da mídia. Na minha opinião, nada mais antimídia do que uma ação política capaz de causar embaraços e constrangimentos justamente aos partidos protegidos pelo cartel midiático, sejam os de oposição aberta ao governo, como o PSDB, ou os rebelados oportunistas de ocasião, como o PMDB. Esses partidos só "largarão o osso" do financiamento das empresas no dia em que a lei não mais permitir. Saindo na frente, o PT pode se beneficiar da seguinte indagação do cidadão : "Ora, o PT, para a imprensa, é o símbolo da corrupção, mas por que diabos ele renuncia à grana das empresas e os outros não ?"

E tem mais : de agora em diante, candidato do PT que quiser se eleger vai ter de fazer o caminho de volta aos movimentos sociais, à luta cotidiana do povo, gastando saliva e sola de sapato. A caríssima trucagem marqueteira dará lugar à política no posto de comando das campanhas. Tudo isso sem renunciar à qualidade, pois o partido terá recursos suficientes para fazer programas de bom gosto estético, inclusive contanto com as boas técnicas de marketing.

Mas, alvísseras, chega ao fim  no PT o tempo em que os marqueteiros enfiavam a faca até o talo, cobrando 30, 40 ou até 100 milhões pelos programas de rádio e televisão. O PT do Rio de Janeiro até hoje está às voltas para saldar uma dívida milionária com os responsáveis pelo programa do candidato Lindberg ao governo do Rio. Pasteurizado e amorfo, o programa contribuiu para o fracasso da candidatura. Quanto à galhofa de que as campanhas do PT ingressarão no túnel do tempo, voltando a se basear na venda de camisetas e estrelinhas, lembro que nesta época o partido estava longe de ter a capilaridade na sociedade, a influência política e o tamanho dos dias atuais.

Um comentário:

  1. Concordo. Decisão acertada e que tem que ser ratificada pelo Congresso do PT. E isso fará com que mais gente, nova e aquela gente antiga como eu, se agregue à causa petista. Seja quanto ao comprometimento financeiro do partido, seja na busca por novas maneiras de se fazer chegar à população. Para mim significará mais que uma volta às origens do PT. Significará um novo empoderamento. E agora com muito mais experiência e maturidade, pois muito caminho já foi andado, com erros até, mas com muito mais acertos. Viva o PT!

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