sexta-feira, 21 de outubro de 2011

"Inferno para os ladrões de petróleo está só no começo"

Peço licença para transformar em título deste post uma frase extraída de um  artigo do jornalista Leonardo Severo, repórter do Hora do Povo e membro do Centro Barão de Itararé, que circula na rede. Essa chamada é a mais perfeita tradução da vitória de Pirro, na Líbia, obtida pelos EUA, potências europeias e Otan com o assassinato de Kadafi. É incrível como os EUA não aprendem com as lições da história. Movidos pela ganância pelo petróleo alheio os americanos até hoje estão sentados nos barris de pólvora do Iraque e do Afeganistão, com um saldo macabro de centenas de milhares de mortos e mutilados, sem falar na destruição completa da infraestrutura desses países. O presidente Barack Obama vai colecionando cadáveres de adversários ( Bin Laden, Kadafi...), aos quais foram negados o direito a
julgamentos justos.Por mais estarrecedor que pareça, a verdade é que a execução sumária virou elemento estratégico da diplomacia estadunidense.
De cara, é preciso denunciar mais uma vez a ilegalidade das ações militares da Otan na Líbia. O mandato concedido pela ONU limitava-se apenas à criação por parte da Aliança Atlântica de uma zona de exclusão aérea, sob a justificativa de que era preciso proteger os civis dos bombardeios das forças leais a Kadafi. Desde o começo o conflito líbio ganhou ares de guerra civil, ao contrário do que aconteceu nas rebeliões anteriores na Tunísia e no Egito, onde  manifestações populares pacíficas foram crescendo de forma avassaladora, a ponto de levar de roldão os governos de Bem Ali e Osni Mubarack.

Não é necessário ser versado em geopolítica e iniciado na história dos conflitos e insurreições ao redor do planeta para entender que guerra civil é assunto de competência exclusiva da população do país eventualmente conflagrado. Trocando em miúdos : guerra civil entre líbios cabe exclusivamente aos líbios. Para se ter uma ideia de como foi usurpado o mandato da ONU, selecionei trecho de uma matéria do jornal espanhol El País publicada na edição de O Globo desta sexta-feira, 21 de outubro :

“ Dezenas de quartéis, depósito de armas, bases militares, portos, torpedeiros, centros de comunicações e aeroportos foram arrasados pelos mísseis aliados. Inutilizada a aviação e bloqueados os navios de guerra, os tanques de Kadafi também deixaram de se mover. Mas isso não era suficiente para mudar a situação. Em abril, Reino Unido e França enviaram assessores militares a Benghazi, e os rebeldes passaram a se comportar de outra maneira. Receberam treinamento e equipamentos sofisticados de comunicação. Também proibiu-se o acesso da imprensa, até então livre, às frentes de batalha.”

Como essas nações poderosas controlam o Conselho de Segurança da ONU, onde mantêm um esdrúxulo poder de veto, a ONU se viu, como sempre, manietada, restando fazer vistas grossas à ação criminosa da Otan. Por trás das bombas do ocidente, não tenhamos ilusões, está o “olho grande” no petróleo líbio. Antes da guerra, o país produzia 1,6 milhões de barris por dia.

Um exemplo do quanto são seletivas as intervenções “humanitárias” da Otan, sempre aplaudidas pela mídia ocidental, na Síria mais de 3 mil pessoas já morreram nos choques entre as forças de segurança e manifestantes, sem que EUA e aliados sequer cogitem de ações bélicas contra o regime de Bashar al-Assad, restringindo-se à imposição de sanções econômicas. E sabem por que ? Simplesmente porque a Síria é um pequeno produtor de petróleo.

EUA, Reino Unido e França agora esperam a recompensa, na forma do ouro negro que brota do deserto deste país cuja população é formada por um sem número de tribos. Cedo ou tarde, no entanto, a luta do povo por soberania  e pelo controle sobre suas riquezas se chocará contra os interesses da  pilhagem ocidental. A chance de se repetir a carnificina sem fim do Iraque e do Afeganistão é grande. Tudo isso num cenário tensionado pelas múltiplas divisões tribais e pela lembrança do corpo ensangüentado de Kadafi, que, para uma quantidade nada desprezível de líbios, agora é um mártir.

Moral da história : dias terríveis esperam os países da Otan na Líbia. Quem viver verá.


2 comentários:

  1. Depois de amanhã poderá ser o Brasil do pré-sal.

    ResponderExcluir
  2. Bepara,
    A alguns meses o viomundo publicou um dos mais interessantes artigos que vi sobre a questão da Líbia:
    http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/pepe-escobar-libia-as-tribos-contra-o-bunker.html

    Abs,

    Marcelo

    ResponderExcluir