julgamentos justos.Por mais estarrecedor que pareça, a verdade é que a execução sumária virou elemento estratégico da diplomacia estadunidense.
De cara, é preciso denunciar mais uma vez a ilegalidade das ações militares da Otan na Líbia. O mandato concedido pela ONU limitava-se apenas à criação por parte da Aliança Atlântica de uma zona de exclusão aérea, sob a justificativa de que era preciso proteger os civis dos bombardeios das forças leais a Kadafi. Desde o começo o conflito líbio ganhou ares de guerra civil, ao contrário do que aconteceu nas rebeliões anteriores na Tunísia e no Egito, onde manifestações populares pacíficas foram crescendo de forma avassaladora, a ponto de levar de roldão os governos de Bem Ali e Osni Mubarack.
Não é necessário ser versado em geopolítica e iniciado na história dos conflitos e insurreições ao redor do planeta para entender que guerra civil é assunto de competência exclusiva da população do país eventualmente conflagrado. Trocando em miúdos : guerra civil entre líbios cabe exclusivamente aos líbios. Para se ter uma ideia de como foi usurpado o mandato da ONU, selecionei trecho de uma matéria do jornal espanhol El País publicada na edição de O Globo desta sexta-feira, 21 de outubro :
“ Dezenas de quartéis, depósito de armas, bases militares, portos, torpedeiros, centros de comunicações e aeroportos foram arrasados pelos mísseis aliados. Inutilizada a aviação e bloqueados os navios de guerra, os tanques de Kadafi também deixaram de se mover. Mas isso não era suficiente para mudar a situação. Em abril, Reino Unido e França enviaram assessores militares a Benghazi, e os rebeldes passaram a se comportar de outra maneira. Receberam treinamento e equipamentos sofisticados de comunicação. Também proibiu-se o acesso da imprensa, até então livre, às frentes de batalha.”
Como essas nações poderosas controlam o Conselho de Segurança da ONU, onde mantêm um esdrúxulo poder de veto, a ONU se viu, como sempre, manietada, restando fazer vistas grossas à ação criminosa da Otan. Por trás das bombas do ocidente, não tenhamos ilusões, está o “olho grande” no petróleo líbio. Antes da guerra, o país produzia 1,6 milhões de barris por dia.
Um exemplo do quanto são seletivas as intervenções “humanitárias” da Otan, sempre aplaudidas pela mídia ocidental, na Síria mais de 3 mil pessoas já morreram nos choques entre as forças de segurança e manifestantes, sem que EUA e aliados sequer cogitem de ações bélicas contra o regime de Bashar al-Assad, restringindo-se à imposição de sanções econômicas. E sabem por que ? Simplesmente porque a Síria é um pequeno produtor de petróleo.
EUA, Reino Unido e França agora esperam a recompensa, na forma do ouro negro que brota do deserto deste país cuja população é formada por um sem número de tribos. Cedo ou tarde, no entanto, a luta do povo por soberania e pelo controle sobre suas riquezas se chocará contra os interesses da pilhagem ocidental. A chance de se repetir a carnificina sem fim do Iraque e do Afeganistão é grande. Tudo isso num cenário tensionado pelas múltiplas divisões tribais e pela lembrança do corpo ensangüentado de Kadafi, que, para uma quantidade nada desprezível de líbios, agora é um mártir.
Moral da história : dias terríveis esperam os países da Otan na Líbia. Quem viver verá.
Depois de amanhã poderá ser o Brasil do pré-sal.
ResponderExcluirBepara,
ResponderExcluirA alguns meses o viomundo publicou um dos mais interessantes artigos que vi sobre a questão da Líbia:
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/pepe-escobar-libia-as-tribos-contra-o-bunker.html
Abs,
Marcelo