quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Perdemos o comentarista da palavra fácil

Acabo de chegar à ensolarada Foz do Iguaçu, na tríplice fronteira, para participar do Enconto Internacional de Blogueiros Progressistas, e me deparo com a notícia da morte do radialista Luis Mendes, craque do microfone e referência do jornalismo esportivo brasileiro. Que tristeza ! Posso dizer sem exagero que cresci ouvindo seus comenrários. Há pelo menos 40 anos venho usufruindo de sua sabedoria, de sua memória privilegiada, de sua voz a um só tempo serena e firme, de sua simpatia e doçura contagiantes.Jamais se viu esse gaúcho acariocado, torcedor apaixonado do Botafogo de Futebol e Regatas, perder a  linha, a compostura, a elegância. Nem mesmo quando teve que conter o choro para narrar o fatídico gol de Giggia, na "tragédia do Maracanazo", em 1950. Descanse em paz, mestre Luis Mendes.
Ao todo foram mais de 60 anos de carreira dedicados ao futebol brasileiro. Primeiro na televisão e depois no rádio, como narrador ou comentarista, Mendes  testemunhou os momentos mais marcantes do futebol brasileiro e mundial. Para se ter uma ideia de sua rodagem e experiência, das 19 Copas do Mundo realizadas, ele participou da cobertura de nada menos que 16. Sua postura ética e profissional jamais permitiu que suas crônicas, resenhas ou comentários fossem turvados por suas preferências clubísticas. Além de botafoguense, ele não escondia que, em sua terra natal, o Rio Grande do Sul, era torcedor do Grêmio.

Durante muitos anos, todos os documentários, pesquisas ou estudos que se pretendiam sérios sobre a história do futebol brasileiro tinham necessariamente que ouvi-lo, em respeito à sua condição de efetiva memória ambulante do nobre esporte bretão. Assombrava sua capacidade de discorrer com fluência sobre pormenores de um clássico do futebol carioca ou brasileiro ( de jogos da seleção brasileira, então, nem se fala) ocorrido há 40 atrás como se fosse ontem. Com seu foco sempre voltado para a essência, a beleza  e o resgate histórico do nosso futebol, Mendes passava ao largo das polêmicas de natureza pouco nobres, das bajulações e "cavadas", tão comuns entre alguns profissionais do meio esportivo.

Ouvinte não só das transmissões dos jogos, mas também das resenhas esportivas desde que me entendo por gente, pude observar nestes últimos anos que os problemas progressivos de saúde (diabetes e depois leucemia) fizeram com que o bravo Mendes passasse a participar somente pelo telefone, naturalmente de sua casa, dos programas "Enquanto a bola não rola", "Panorama Esportivo" e Globo Esportivo", onde mantinha uma crônica ( "Da pelada ao Pelé") na qual abordava, especialmente, episódios pitorescos e lúdicos do futebol brasileiro. Sua voz já não era a mesma, mas lá estavam intocáveis a clarividência e a "memória de elefante." O comentarista da palavra fácil, bordão feito sob medida para ele, trabalhou até praticamente o último dos seus dias.

O Botafogo está de luto. A seleção brasileira está de luto. O mundo do futebol está de luto. Vou sentir muitas saudades.

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