terça-feira, 25 de junho de 2013

Muitos são contra a PEC 37 por ignorância

Na quinta-feira trágica da semana passada, no Rio de Janeiro, quando militantes da CUT, de movimentos sociais e partidos de esquerda foram agredidos por brigadas fascistas e tiveram suas bandeiras queimadas, um diálogo que tentei travar com uma moça que portava um cartaz contra a PEC 37 merece reflexão. Como ela espezinhava a PEC com gritos enfurecidos, resolvi testar seu nível de conhecimento sobre causa tão "nobre": 

- "Ei, moça, o que é mesmo essa PEC 37 ?"

- "É uma lei aí, que, se for aprovada, nunca mais vai ter investigação no Brasil."

Podem ter certeza que o nível de entendimento médio dos manifestantes sobre a PEC 37 não ultrapassa muito esse entendimento indigente. Claro que há os que atacam seu conteúdo por convicção. 

Contudo, se  somarmos os que formaram sua opinião a partir do oportunismo político direitista da Globo, e do monopólio da mídia em geral, ou sensibilizados pelas manobras corporativas e partidarizadas do  procurador Roberto Gurgel, aos ignorantes que nada  sabem sobre a PEC, atingiremos a mais de 90% das pessoas que vociferam contra a emenda nas ruas.

Pingos nos is sobre a PEC 37

1) A Proposta de Emenda Constitucional 37 não retira poderes de investigação do Ministério Público. Apenas mantêm as atuais funções constitucionais do MP : a fiscalização e a supervisão dos inquéritos criminais a cargo das polícias judiciais (civil e federal). A PEC 37 veda ao MP a presidência dos inquéritos por uma questão de conflito de interesses : como cabe ao MP acusar e oferecer denúncia à Justiça, configura-se uma aberração processual o fato de seus integrantes também darem a última palavra na instrução do inquérito, como muitas vezes acontece hoje. Moral da história : quem acusa não pode chefiar o inquérito.

2) Reparem como o MP só se interessa por estar à frente de inquéritos que trazem notoriedade à sua atuação. Ou seja, só interessa se os holofotes da mídia estiverem garantidos. É por isso que crimes do colarinho branco, que envolvem políticos, empresários e gente influente são sempre foco da atuação do MP. Por que será que o digníssimo Ministério Público dá de ombros para o assalto com morte no boteco da esquina ou para os estupros e assaltos ocorridos em áreas populares ?

3) Inebriado pela ampliação dos seus poderes conferidos pela Constituição de 1988, os rapazes imberbes do Ministério Público, em sua maioria, extrapolaram o papel constitucional da instituição de defender os interesses da sociedade e passaram a se notabilizar por levantar o dedo acusador de forma generalizada, muitas vezes atropelando o sistema de garantias individuais, um dos pilares do Estado Democrático de Direito. Essa distorção só se agravaria se o MP assumisse a condição de senhor de todos os inquéritos.

4) Às vezes, para se posicionar sobre temas  polêmicos, basta seguir a velha e boa expressão "Diz-me com quem andas que direi quem és." Matéria publicada nesta segunda-feira no Portal 247 lembra que contra a PEC 37 estão os veículos da Família Marinho e todos os colunistas de O Globo. A favor da PEC 37, por decisão unânime do seu Conselho Federal, está a Ordem dos Advogados do Brasil. E aí cabe a pergunta básica : quem prestou mais mais serviços à democracia no Brasil, o Globo ou a OAB ? A resposta, de tão óbvia, sugere uma outra indagação : quem mais ajudou a ditadura militar a implantar o terror no país, o Globo ou a Folha de São Paulo. Páreo duro, não ?

No que se transformou o Ministério Público

1) Não existe interpretação minimamente padronizada e coerente da Constituição por parte do Ministério Público. Cada procurador interpreta os artigos da Carta Magna a seu modo. Alguns pareceres são de fazer corar qualquer calouro de direito. Quase sempre esse contorcionismo do MP visa  a fundamentação de pedidos de condenação de acusados ao arrepio das premissas garantistas da Constituição. 

2) Nos últimos anos, o Ministério Público Federal, sob as gestões de Antonio Fernando de Sousa e Roberto Gurgel,tem agido como braço da oposição ao governo federal.Para os dirigentes do PT e partidos aliados, máximo rigor, interpretações parciais, oportunistas e enviezadas do Código Penal e do Código de Processo Penal. Para os oposicionistas, engavetamento de ações, desqualificação de denúncias e até conivência.


Um comentário:

  1. E parece que esta ignorância, excetuando-se os de má intenção, é geral mesmo! Conversando com um prof. universitário que se manifestava contra a PEC 37, ouvi dele explicações absurdas: tudo captado dos "sábios" da Globonews! Como trabalho na ala jurídica, tentei fazê-lo menos ignorante, mostrando-lhe o que diz a nossa Constituição Federal sobre as competências do MP e da Polícia e que carece do esclarecimento oferecido pela PEC 37(inclusive(tal impasse constitui objeto de ação que dormita há mais de quatro anos no "ágil" STF). Não sei se consegui fazer dele um multiplicador...

    ResponderExcluir